Voz
de Muitas Águas
por Luciano P. Subirá
“Eu vi a glória do Deus de Israel que vinha do
oriente. A
sua voz era como a voz de muitas águas, e a terra
resplandeceu
por causa da sua glória”. - Ezequiel 43.2
O profeta Ezequiel ouviu a voz do Senhor e foi este o testemunho acerca
dela: era como a voz de muitas águas! Mas esta
não foi a
única ocasião em que ele a ouviu desta forma.
Logo no
início de seu livro encontramos um relato de uma
visão
que o Senhor lhe dera, e nela ele comenta acerca da voz do Senhor:
“Andando eles ouvi o ruído das suas asas, como o
ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente,
a voz de
um estrondo, como o estrépito de um exército;
parando
eles, abaixavam suas asas”. - Ezequiel 1.24
Vale ressaltar expressões como
“ruído” e
“estrondo” ao se falar da voz do Senhor como a voz
de
muitas águas, pois neste paralelo, a verdade que se quer
transmitir não está necessariamente ligada
à
água, mas ao BARULHO que ela faz. Além do profeta
Ezequiel, também temos o profeta Jeremias dando testemunho
disto:
“Fazendo ele [Deus] ouvir a sua voz, grande estrondo de
águas há nos céus, e sobem os vapores
desde os
confins da terra. Envia os relâmpagos com a chuva, e tira o
vento
dos seus tesouros”. - Jeremias 51.16
Tal qual os dois profetas, o apóstolo João em seu
exílio na ilha de Patmos também teve uma profunda
experiência com Deus, na qual viu o Senhor ressuscitado e
ouviu a
sua voz; e seu relato é idêntico aos que
já vimos,
mostrando ser esta uma característica pertencente
à voz
de Deus:
“Os seus pés eram semelhantes a latão
reluzente,
como que refinado numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas
águas” - Apocalipse 1.15
Temos três testemunhos: o de Ezequiel, o de Jeremias e o de
João. E a Bíblia diz que pela boca de duas ou
três
testemunhas se estabelece toda questão (2Co. 13.1).
Portanto,
isto não é apenas um exemplo ou alegoria,
é uma
doutrina. Não é um mero detalhe em meio a uma
descrição, e sim uma ênfase das
Escrituras. A voz
do Senhor é como a voz de muitas águas!
Deus quer que entendamos e vivamos esta verdade. Sua voz em nossas
vidas deve ser como a voz de muitas águas.
O SIGNIFICADO
Se a expressão “voz como de muitas
águas”
não é apenas uma menção ou
detalhe, mas uma
ênfase e doutrina escriturística, então
é de
suma importância que compreendamos o significado da
terminologia
bíblica. O que é ter voz como de muitas
águas?
Não é a quantidade de água em si que
oferece o
exemplo utilizado nas Escrituras, mas vimos que a expressão
aparece ligada a outros termos como
“ruído” e
“estrondo”; o exemplo, na verdade, está
ligado ao
BARULHO das águas. Alguém pode estar no meio do
oceano,
olhar à sua volta e ver muitas águas, mas ainda
sim estar
tudo em silêncio; não é da quantidade
de
água em si que a Bíblia fala, mas sim de seu
ruído. Embora no caso de uma queda
d’água, quanto
maior for o volume de água maior será
também o
ruído...
Eu creio que o paralelo que Deus oferece é este, o de quedas
d’água, cachoeiras, cataratas, ou qualquer outro
nome que
aponte para o ruído de águas, como as ondas
bravias do
mar, por exemplo. Até mesmo as chuvas (tempestades)
são
apresentadas assim neste exemplo bíblico, pois a
idéia
é esta: ressaltar a intensidade da voz divina.
Quando nos aproximamos de quedas de águas, por exemplo, as
Cataratas do Iguaçu, podemos observar que quanto maior o
volume
de água, maior será o ruído que
ouviremos. Estive
lá algumas vezes, inclusive na minha lua-de-mel, quando Deus
falava destas verdades comigo, e é um espetáculo
e tanto!
Mas lá em Foz do Iguaçu, podemos ouvir o
ruído das
águas sem que ele impeça nossa conversa, pois
é
possível ouvirmos uns aos outros visto que os visitantes
não têm como se aproximar tanto das cataratas.
Podemos até molhar a roupa do corpo devido à
umidade do
ar, mas mesmo nos pontos turísticos mais próximos
das
cataratas ainda não se chega perto o suficiente para que
nossa
voz seja encoberta. Contudo, se formos a uma cachoeira de menor volume
de água e de queda também menor, mas
colocarmo-nos
debaixo dela ou mesmo bem próximo às pedras onde
ela cai,
poderemos experimentar o barulho dela encobrindo nossa voz e impedindo
até mesmo conversas, pois o provável é
que
ninguém ouvirá ninguém.
O ruído de muitas águas é, em outras
palavras, um
ruído que encobre os outros ruídos. Assim
também
é a voz do Senhor: UMA VOZ QUE ENCOBRE AS OUTRAS VOZES! E
aqui
deparamo-nos com um princípio poderoso: Deus quer que sua
voz
chegue com tamanha intensidade em nossas vidas que cheguemos a ponto de
não ouvir mais nenhuma outra voz. Ele quer que sua Palavra
PREVALEÇA sobre toda e qualquer voz neste mundo, a ponto de
se
poder dizer de nossas vidas o que se disse em Éfeso:
“Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente, e
prevalecia.” (At. 19.20.)
O que aconteceu nesta cidade da Ásia pode (e deve) acontecer
conosco! Afinal não foi na cidade em si que a Palavra
cresceu,
mas na vida dos habitantes dela; e se ocorreu a eles pode nos ocorrer
também. Quando a Bíblia fala sobre o crescimento
da
Palavra, fala de como ela cresce na vida das pessoas. À
medida
que damos espaço à Palavra do Senhor, inclinando
nosso
coração a ela, experimentamos uma INTENSIDADE
MAIOR de
sua operação em nossas vidas.
Mas note que a Palavra não apenas crescia, mas PREVALECIA. E
prevalecia sobre o quê? Sobre outras vozes e
ruídos. Isto
é que é experimentar a voz do Senhor como voz de
muitas
águas. É ouvi-la tão intensa e
fortemente que
não ouvimos mais nenhuma outra voz!
Por outro lado, há pessoas que experimentam justamente o
contrário: outras vozes é que vivem encobrindo a
voz do
Senhor em suas vidas.
Creio que há um fator determinante que diferencia um grupo
do
outro. A palavra de Deus não iria prevalecer na vida de um e
de
outro não sem um motivo. O que determina esta
diferença?
A DISTÂNCIA INFLUENCIA
Citei como exemplo de ruído de águas, as
Cataratas do
Iguaçu, onde podemos perceber o barulho das águas
sem
deixarmos de conversar uma vez que, pela distância, o
ruído não chega a atrapalhar-nos. E ao comentar
sobre uma
catarata barulhenta (mas não o suficiente para encobrir
todos os
outros ruídos), o fiz com o propósito de
chamar-lhe a
atenção para uma outra verdade: a
distância que
permanecemos da água influencia muito!
Ao entrar no Parque Nacional do Iguaçu, ainda na estrada
para as
quedas não podemos ouvir o ruído da
água, mas
assim que nos aproximamos delas no último
quilômetro
já começamos ouvi-las. Mas mesmo quando estamos
no ponto
de observação mais próximo, ainda
podemos
conversar. Porém, se houvesse um meio (seguro!) de nos
aproximarmos tanto de uma das quedas, a ponto de quase nos colocarmos
debaixo dela, então seria impossível conversar ou
ouvir
outro som, pois o barulho da água PREVALECERIA sobre todos
os
outros.
Assim também se dá com a voz de Deus. Se nos
aproximarmos
de sua Palavra, ela encobre as outras vozes. Mas se nos distanciarmos,
podemos chegar a um ponto onde os outros ruídos acabam sendo
mais altos que a Palavra de Deus em nossas vidas.
O propósito divino é que estejamos tão
próximos da Palavra que ela prevaleça sobre toda
e
qualquer voz, abafando-a por completo.
Não estou falando do quanto você conhece ou
lê a
Bíblia, mas do quanto você está (ou
não)
perto! A quantidade de água não afeta tanto como
a
PROXIMIDADE dela... Mencionei que em Foz do Iguaçu
é
possível conversar sem que o ruído da
água abafe
completamente nossa voz; mas há alguns anos conheci uma
pequena
cachoeira que conseguiu esta façanha! Veja bem,
não
há como compará-la com as Quedas do
Iguaçu, cuja
altura e volume de água são incalculavelmente
superiores,
porém, esta pequena cachoeira localizada no
município de
Candói, no Paraná, conseguiu abafar minha voz!
Havíamos realizado um acampamento com os jovens da igreja, e
descobrimos nas proximidades do local do acampamento a tal cachoeira.
Devido ao bom tempo que desfrutávamos naquele dia e a
consciência de que por causa das chuvas abundantes que
caíra nos dias anteriores haveria um lindo
espetáculo,
dirigimo-nos com um grupo de jovens para lá. Ao chegarmos, a
maioria de nós não resistiu ao calor e decidiu se
colocar
debaixo do véu de água... e foi curioso descobrir
que
embora não parecesse uma cachoeira tão forte, mal
conseguíamos ouvir uns aos outros enquanto debaixo daquela
queda
d’água.
A lição que aprendi com este exemplo! O que faz a
diferença não é o tanto de
água que cai,
mas se eu estou ou não próximo a ela! Em Foz do
Iguaçu o volume de água era muito maior do que
este em
Santa Clara, no Candói. Mas o fato de eu ter me aproximado
mais
da menor cachoeira, pôde me levar a atribuir a ela um
ruído maior do que o aquele que trago na memória
referente às belas Cataratas do Iguaçu.
Semelhantemente, há crentes que conhecem a Bíblia
já há muitos anos, e o tanto que a leram e
estudaram
é semelhante ao volume de águas do
Iguaçu,
é muita coisa! Mas não vivem próximos
da Palavra,
e ela não é suficiente para abafar as outras
vozes em
suas vidas!
Por outro lado, temos irmãos que pelo pouco tempo que servem
ao
Senhor, suas águas (conhecimento da Palavra) são
de um
volume tão menor que as do Iguaçu que
só podem ser
comparadas com esta pequena cachoeira da qual me referi. Só
que
como vivem tão próximos da luz, que possuem da
Palavra,
ela é suficiente para PREVALECER em suas vidas e abafar as
outras vozes.
Portanto, não é o estar em Foz do
Iguaçu ou no
Candói que determina a diferença, mas a que
distância cada um se encontra das suas águas! Se o
mais
novo na fé e o de menor conhecimento entram debaixo da sua
cachoeira, e o mais velho na fé e o de maior conhecimento
permanecem longe de sua catarata, em quem a Voz de Deus está
chegando mais alto? É óbvio que nos que
estão
próximos daquilo que já possuem. É
naquele que se
aproxima mais, e não no que conhece mais.
A voz do Senhor será como voz de muitas águas,
encobrindo
as outras vozes e ruídos, somente quando nos colocarmos
próximos a ela.
O QUE É ESTAR PRÓXIMO
O que é, então, estar próximo?
É não
apenas ler e conhecer as Escrituras, mas permitir que o
Espírito
Santo trabalhe em nós com a Palavra. Por exemplo, eu posso
ser
um profundo conhecedor (e até ensinador) da fé
bíblica; dizer às pessoas: as Escrituras dizem
isto, isto
e aquilo... mas na minha vida cristã, na hora em que eu
precisar
exercitar minha própria fé, ser vencido pela voz
da
dúvida. Já um cristão novo convertido,
que
não tenha nenhuma bagagem tão profunda de
Bíblia e
nem saiba explicar a fé, pode ler uma
porção da
Palavra, uma promessa, e permitir que o Espírito Santo
trabalhe
em seu íntimo revelando a Palavra, o que fará com
que ela
se torne “voz como de muitas águas” em
sua vida.
Terá então provado o poder da Palavra do Senhor
abafando
a voz da incredulidade e dando-lhe vitória no combate da
fé.
Não estou dizendo que não há valor em
estudar e
conhecer as Escrituras; você deve dedicar-se a isto o
MÁXIMO que puder (2Tm. 2.5). Quem dera que cada crente
lutasse
contra a ignorância em busca de mais e mais da Palavra de
Deus.
Seria uma verdadeira revolução! Mas o que quero
dizer
é que apenas isto não basta e nem tampouco
determina o
sucesso de nossa vida cristã. Precisamos conhecer E NOS
MANTER
PRÓXIMOS da Palavra; não podemos nos distanciar.
Distanciar-se não é deixar de saber, mas sim
deixar de
ser sensível, viver e experimentar aquilo que conhecemos.
Trata-se de perder a consciência espiritual daquela verdade
e,
conseqüentemente, impedir que o Espírito Santo
prossiga
trabalhando naquela área de nossas vidas.
Nestes dias o Pai Celeste está nos convocando para que nos
aproximemos novamente das águas e permitamos que elas abafem
as
outras vozes e ruídos em nossas vidas.
DIFERENTES TIPOS DE VOZES
Ao escrever aos coríntios, Paulo mostrou nos
capítulos 12
e 14 de sua primeira epístola, que Deus é um Deus
que
fala. Diz que já não mais servimos aos
ídolos
mudos (1Co. 12.2), mas ao Deus vivo que fala com cada um de
nós;
e então cita os dons do Espírito como um dos
diferentes
meios pelos quais Deus fala. Mas ao mostrar que podemos ouvir a voz do
Senhor, ele também deixou claro que podemos ouvir outros
tipos
de vozes:
“Há, por exemplo, muitas espécies de
vozes no
mundo, e nenhuma delas é sem significado”. -
1Coríntios 14.10
Lemos que não somente há línguas
diferentes, mas
VOZES diferentes. Ouvimos muitas espécies de vozes em nossa
vida
espiritual; o diabo, o mundo e a carne, nossos cruéis
inimigos,
tentarão de todas as formas abafar a voz de Deus em
nós
para que lhes demos ouvidos. Mas, por outro lado, se deixarmos a
Palavra de Deus se manifestar com “voz como de muitas
águas”, então as demais vozes
é que
serão encobertas e a Palavra do Senhor
prevalecerá.
Há muitos tipos de vozes no mundo. Às vezes
sentimo-nos
pressionados a dar ouvidos a uma voz que não se harmoniza
com a
de Deus. Reconhecemos que a voz do Senhor diz o oposto, sabemos que
estamos errando, mas ainda assim, ficamos de tal maneira presos que
acabamos por seguir na direção errada. E depois
nos
frustramos, condenamos e lamentamos.
Questionamos: Por que não ouvimos a Palavra de Deus? Como
é possível saber o que o Senhor diz, e ainda
fazer o
contrário?
A razão é que estamos distantes da Palavra de
Deus
naquela área; esta é a única e grande
verdade do
porquê isto ocorre! Se nos aproximarmos do que Deus diz,
recebendo a vida e a revelação do
Espírito Santo
naquela área, então as outras vozes
serão
encobertas. Se nos afastarmos da Palavra (e não me refiro ao
Livro em si, mas à Palavra VIVA), então as demais
vozes
é que se sobressairão. Que voz tem prevalecido em
tua
vida?
Sugerimos abaixo algumas destas muitas espécies de vozes que
costumamos ouvir. Para cada uma delas o princípio de
vitória é o mesmo: VOLTAR À PALAVRA.
Não
apenas ler, mas meditar e deixar que o Espírito da Verdade
opere
no íntimo, avivando a consciência espiritual...
A voz da tentação
A voz da maioria
A voz da dúvida
A voz da ganância
A voz dos mexericos
A voz do desânimo
A voz do preconceito
A voz do medo
A voz do comodismo
Que Deus o abençoe, e que sua voz fale mais alto em sua vida!
Autor: Luciano P. Subirá